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Discuta qualidade, não modalidade!

As pessoas ainda torcem o nariz para educação a distância, talvez porque muito do que é ofertado tem qualidade discutível. As questões de qualidade ficam bem visíveis quando se trata de EAD via internet e há mais tempo para se olhar com cuidado. Mas isso é apenas um reflexo da educação formal, oferecida em qualquer espaço. A questão não é a modalidade, mas a qualidade!

O ser humano já aprendia antes de haver escolas

Já aprendíamos, muito antes de criarmos um sistema educacional entre carteiras desconfortáveis e experiências pouco significativas. Aprendíamos simplesmente vivendo, observando, experimentando, porque somos essencialmente experienciais. Uma ideia corroborada por diferentes estudos científicos. É preciso reconhecer que essa educação massificada em escala, dentro de espaços fechados, é coisa da industrialização, da necessidade de “treinar” pessoas para operarem máquinas nas fábricas.

Mas somos muito melhores que isso. Quando se trata de aprender, somos nós os protagonistas. Se reparamos na jornada da humanidade até aqui, o que aprendemos e produzimos nesse caminho para o bem ou para o mal – não é apenas fruto da escola, mas do que somos capazes de aprender uns com os outros de modo acumulativo.

E somos bons nisso!

Somos muito bons em aprender e não temos como nos livrar disso… Porque somos constituídos de um tecido complexo que se organiza para as mudanças e nos faz capazes de aprender com todos os sentidos. Reflita por alguns segundos… Fique em silêncio e tente não aprender nada, não pensar em nada… Não é fácil! E mesmo em um processo meditativo, possivelmente nosso corpo estará aprendendo algo. Somando-se à nossa capacidade de aprender, há a nossa necessidade de compartilhar porque além de experienciais, somos sociais. E isso aumenta a nossa rede de aprendizagem que envolve, além dos nossos sentidos, a combinação com os sentidos e capacidades de outras pessoas.

Somos únicos indivisíveis e também combináveis

E vale ressaltar que falo em combinação e não em divisão. Porque não podemos separar apenas a visão e não usar os demais sentidos que tivermos para reorganizar nossas experiências em termos de mudança. E por isso, a aprendizagem não é divisível, mas combinável.

Em abundância

Caminhando por esses pensamentos eu me lembro de que há tempos inventamos a escrita e passamos a documentar aquilo que a linguagem oral não era mais capaz de transmitir. A internet também nos deu mais e mais caminhos de fazer a informação se espalhar e fortaleceu as redes de aprendizagem. Como resultado, há um volume crescente de informações sendo disponibilizadas, todos os dias, vivemos a abundância de informações.

Imagem antiga de um prensa – Pixabay

 

 

Aprender na abundância

Somada a nossa capacidade de aprender a um cenário de abundância de informação, redes e possibilidades, vivemos um cenário muito propício para aprendizagem. Porque aprender é um processo indivisível, contínuo, natural e envolve toda mudança que produzimos em nós mesmos, a partir das nossas experiências e interações conosco, nas nossas reflexões, com o outro, na participação social e com o mundo, na compreensão da nossa identidade, a partir da ideia de pertencer a ele. Esse ideia de aprendizagem é corroborada por diferentes filósofos e teóricos contemporâneos de Carl Rogers, Felix Guattari, a Illeris e Siemens.

Que sentido faz, então, falar em diferentes modalidades de aprendizagem?

Como seres experienciais, sociais, indivisíveis, vivendo em abundância de informação, e diferentes possibilidades de aprender, não faz sentido separar e contrapor modalidades, mas combinar modalidades. E foi assim que chegamos até aqui, como seres humanos, envolvendo tudo que tínhamos, combinando maneiras, estratégias e caminhos.

E, diante disso, por que ainda há quem torça o nariz para EAD?

Há uma lacuna de resultados positivos na educação. E isso fica nítido quando está disponível na internet. A aula entendiante, as metodologias vencidas, avaliações inconsistentes ficam mais evidentes online.  O conjunto de PDFs com video-aulas não engajam mais que as redes sociais ou os games online. Repetir as aulas presenciais da era industrial, diante do universo de possibilidades e estratégias que as novas tecnologias permitem, não é uma questão de modalidade, mas de qualidade.

Se não pudermos aprender a distância, precisaremos sair da sala de aula e desligar o cérebro.

Há muitas discussões sobre modalidade. Mas antes de tudo, é preciso entender essa divisão artificial do processo de aprender e separar com cuidado o que é modalidade do que é qualidade. E para discutir qualidade é preciso entender as necessidades e expectativas das pessoas e do mercado (qualquer que seja ele). Então, combinar metodologias e estratégias que sejam adequadas a alcançar os objetivos de aprendizagem, sem preconceito de modalidade, aproveitando o que de melhor cada uma tem a oferecer.

E vamos falar a verdade, o curso presencial não vai tão bem assim

Precisamos assumir isso, por mais que doa. A educação formal não vai bem… Para além dos desafios de natureza econômica decorrentes do cenário nacional, a evasão é grande, os resultados pouco animadores para os estudantes e para as instituições públicas ou privadas.

As instituições educacionais da educação formal viraram intermediárias entre estudantes e professores em um cenário de crescente desintermediação… Contratam professores pelo currículo formal de acordo com metas de contratação. O professor é o único responsável pelo conteúdo, metodologia e estratégias. Nesse cenário cria-se uma ideia de presencialidade porque parece que a presença é uma forma de coagir os estudantes a estarem lá. Mas como protagonistas da aprendizagem é melhor estarmos engajados do que coagidos. E engajamento não está ligado à modalidade, as redes sociais estão aí para nos contar isso.

Então, vamos falar de qualidade? Vamos apoiar instituições e professores para adotarem de maneira adequada as estratégias educacionais capazes de envolver, engajar e apoiar os estudantes em seus processos de desenvolvimento.  Vamos apoiar estudantes a descobrirem seus propósitos para que também estejam dispostos ao esforço necessário da mudança!

Vamos combinar e não separar modalidades. Vamos discutir o que realmente pode impactar a educação entendendo o desafio que é impactar o desenvolvimento de um indivíduo. Mas na superação desses desafios é que se transforma a realidade.

Akemi

Sou educadora de alma. Engenheira de Redes de Comunicação, mestre em Design, Tecnologias e Sociedade de Informação. Pesquisadora e profissional de educação a distância há 20 anos. Membro da Society for Learning Analytics Research. Especialista em tecnologias educacionais e inovação em educação. Apaixonada por todo processo de mudança do indivíduo e por tecnologias que possam apoiar esses processos.

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